sexta-feira, 1 de abril de 2011
SAPUCAIANDO
não me encontro nos versos que ainda não escrevi.
Minha alma não é de ferro
nem nasci em Itabira
não sou funcionário público
não sou Carlos
nem Drummond.
Escrevo o instante
para não rascunhar o eterno
em cada pedaço sou inteiro
e meu inteiro é só metade.
Pudera encenar a vida
cantar o encanto
buscar no fundo do copo
versos que não bebi
encontrar o beijo que não dei
e abraçar o amigo que nunca tive.
Fosse eu de Itabira
teria mais de oitenta por cento de ferro na alma
como sou de Sapucaia
na alma, tenho cem por cento de saudade.
(Rubens Sousa, em 03/12/2010 às 22h e 21min)
quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
SOM DE MATO
domingo, 2 de maio de 2010
DAQUI A POUCO
Daqui a pouco o tempo já foi,
O dia vem,
A noite termina.
Daqui a pouco eu sou passado
Você também.
Daqui a pouco o pouco que sou
Torna menor o momento nosso.
Daqui a pouco eu sou solidão
Você também.
Daqui a pouco meu leito é vazio
E o corpo não amado resume-se em desdém.
Daqui a pouco...
Rubens Sousa, em 23.04.10 às 22h e 53 min
sexta-feira, 30 de abril de 2010
INTERIOR
REDEMOINHO
Minha mão calejada
Não escreve palavras lindas
O rio que me banha
Ora é profundo, ora sem fundo.
O sol que se põe não é aurora
Os versos que escrevo
Não são de minha alma.
Nunca percebi amor nos olhos
Da mulher que espero
O amor que aos outros vem no olhar
Em mim cai feito cegueira
Não me dei bem com a espera.
Verdadeiramente não me reconheço
Se falo, não escutam,
Se escuto, emudecem a voz.
Todo meu começo é no final
E meu final é sempre um recomeço.
Não devo razão à razão
Sou puro improviso
No emaranhado de minha consciência
Deixo roteiros gravados em fala muda.
As tormentas que afligem o pensar
Fazem algazarras no pensador
Nem mesmo o ócio de meus quarenta anos
Atestam a conclusão de Descartes
Sou um encarte não finalizado
Se penso pensar existir, não existo.
O que escrevo não foi escrito por mim.
No redemoinho da vida dou volta contrária
Chego quando tenho que ir
Quando vou é porque tinha que ficar.
Os passos que me levam
Não são os mesmos que me trás
Eu mesmo não sou eu!
Essa janela que olho a vida
Tem dias que não abro
Estar fechada,
É estar fechada de mim mesmo.
Não ver o balançar da cortina
É poder mudar a rotina
Desse que penso ser Eu.
Rubens Sousa, em 15/12/2008 às 22h e 50min, antessala do estúdio do Moisés, Edifício Adelina Rigotti, Dourados/MS.
RUAS DO PASSADO
Caminhando nas ruas do meu passado
Ruas arenosas, largas e de poucos caminhantes
Encontrei os pés de mamonas
da Fortunato de Oliveira 150
Que tantas vezes deram munição para as
Guerras no final das aulas.
Entre as toras esplanadas
Vi as luzes e sons da Casa Preta
E toda sua festa
Invadindo a madrugada.
A José Guiomar me fez lembrar
Dona França e o velho Tingue.
Passei na oficina do Zelão,
Tomei café com a Boneca e o Castelo.
Na Vila do Sapo
Abracei o Zé das Medalhas.
No bar do Tecovê tomei tereré
Com o Babi e o Mino.
Mergulhei na água fria
Da piscina do quartel
E dei um nambiro na orelha do Eigh.
Peguei carona com o Silvinho
Pedi um beijo pra Léca
Falei dos meus sonhos para Regina.
Assim percorri as ruas
Do meu passado
Por todas as ruas caminhei
Vi velhos amigos
Só não encontrei
João Roberto e Kiko.
Já não caminham por ruas arenosas
Brincam e correm
Em estradas de nuvens,
Caminhos do céu.
Rubens Sousa, em14/10/07 às 19h e 24min
(mesa do fundo de casa)
Dourados/MS.