
Minha mão calejada
Não escreve palavras lindas
O rio que me banha
Ora é profundo, ora sem fundo.
O sol que se põe não é aurora
Os versos que escrevo
Não são de minha alma.
Nunca percebi amor nos olhos
Da mulher que espero
O amor que aos outros vem no olhar
Em mim cai feito cegueira
Não me dei bem com a espera.
Verdadeiramente não me reconheço
Se falo, não escutam,
Se escuto, emudecem a voz.
Todo meu começo é no final
E meu final é sempre um recomeço.
Não devo razão à razão
Sou puro improviso
No emaranhado de minha consciência
Deixo roteiros gravados em fala muda.
As tormentas que afligem o pensar
Fazem algazarras no pensador
Nem mesmo o ócio de meus quarenta anos
Atestam a conclusão de Descartes
Sou um encarte não finalizado
Se penso pensar existir, não existo.
O que escrevo não foi escrito por mim.
No redemoinho da vida dou volta contrária
Chego quando tenho que ir
Quando vou é porque tinha que ficar.
Os passos que me levam
Não são os mesmos que me trás
Eu mesmo não sou eu!
Essa janela que olho a vida
Tem dias que não abro
Estar fechada,
É estar fechada de mim mesmo.
Não ver o balançar da cortina
É poder mudar a rotina
Desse que penso ser Eu.
Rubens Sousa, em 15/12/2008 às 22h e 50min, antessala do estúdio do Moisés, Edifício Adelina Rigotti, Dourados/MS.
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