sexta-feira, 30 de abril de 2010

REDEMOINHO


Minha mão calejada

Não escreve palavras lindas

O rio que me banha

Ora é profundo, ora sem fundo.


O sol que se põe não é aurora

Os versos que escrevo

Não são de minha alma.


Nunca percebi amor nos olhos

Da mulher que espero

O amor que aos outros vem no olhar

Em mim cai feito cegueira

Não me dei bem com a espera.


Verdadeiramente não me reconheço

Se falo, não escutam,

Se escuto, emudecem a voz.


Todo meu começo é no final

E meu final é sempre um recomeço.


Não devo razão à razão

Sou puro improviso

No emaranhado de minha consciência

Deixo roteiros gravados em fala muda.


As tormentas que afligem o pensar

Fazem algazarras no pensador

Nem mesmo o ócio de meus quarenta anos

Atestam a conclusão de Descartes

Sou um encarte não finalizado

Se penso pensar existir, não existo.


O que escrevo não foi escrito por mim.


No redemoinho da vida dou volta contrária

Chego quando tenho que ir

Quando vou é porque tinha que ficar.


Os passos que me levam

Não são os mesmos que me trás

Eu mesmo não sou eu!


Essa janela que olho a vida

Tem dias que não abro

Estar fechada,

É estar fechada de mim mesmo.


Não ver o balançar da cortina

É poder mudar a rotina

Desse que penso ser Eu.




Rubens Sousa, em 15/12/2008 às 22h e 50min, antessala do estúdio do Moisés, Edifício Adelina Rigotti, Dourados/MS.

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