sábado, 31 de outubro de 2009

CONJUGAÇÃO

Querer, queremos...
Desse verbo sou infinitivo
A dois não se conjuga
O que um não quer.

O amigo agora
Um enigma amanhã.
O beijo dado
Foi roubado.

Deixaria um verso
Base nesse poema de vida
Se não fosse
Essa estrofe incompleta
Que o poeta rascunhou.

O amor pousou em mim
E fez morada.
Aquele que ama,
Na pessoa amada é um ponto
Não uma lauda.

BRINQUEDOS


Meu carrinho de lata de leite Ninho...
Meu trompo araçá...
Meu volante de tampa de cera Colmeína...
Minhas bulitas...
Meu estilingue de borracha de soro...
Minha bola de capotão...

Meu dinheiro de folha de laranja...
Meu fusquinha de metal comprado na 25 de Março...
Meu kichute de cravo...
Minha bóia de pneu de trator...
Meu cachorro Vinagre...
Minha espingarda de madeira...
Brincar de cair no poço...
Passar o anel...
Varinha colada...
Amarelinha...
Esconde - esconde...
Queimada...
Gringo raia, fogo de paia...
Ciranda cirandinha...
Estátua...


É a infância que carrego para
Brincar todos os dias com a criança
Qu
e há em mim.


Rubens Sousa, em 12/10/2007 às 13h e 50 minutos

Dourados/MS (quarto do Anielton)


BORBULHAS DE DENDÊ




O discurso do nada
É que faço agora
Mapará na panela de barro
Tempero completo
Vai sair muquéca paraguaia.

Cerveja e cachimbo
Na mesa que escrevo
No DVD que já foi vitrola
Los Trios especial de boleros.

Um assobio de Tânia
Acompanhando a canção
Muñequita Linda!

Tasco um olhar na panela
Borbulhas de dendê
Cheiro de cuentro
Calor de tempero
Se é baiano não sei
Só não sei o que Bill
Faz agora.

Não querendo ser o Jô
Gordo sim
Imbecil não
Antes de mais nada
Encerro o discurso
Como se isso
Possível fosse.


Rubens Sousa, em 25.09.2009 às 11h e 10min.
- mesa do fundo de casa-

TARDES TIBURCIANAS

À tarde na minha rua
Só não tem a lua.
A rima é tola
E o silêncio rompe-se
No barulho do olhar.

Olhamos.
Vemos.

O ciclista passa.
O carroceiro passa.
São duas bestas
Na mesma cena.

A rua que não projetei
É pequena e tem todos os personagens
Não faltou nem a fofoqueira.
As mulheres da rua se ocupam
E a Creuza, que injustiça, ocupa-se da vida alheia.

Essa rua não é a dos meus sonhos.
Sonho! Deus! Permita o despertar.
Essa rua tão pequena que se arremete além da cerca
Não é de meus sonhos.
Não posso ser feliz aqui.

Se ao menos tivesse um nome bonito
Seria mais fácil fingir.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

CALADOS

A primeira vez que te beijei
Tua boca estava molhada
Teu corpo estava molhado
E ficamos colados
Molhados
Calados.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

QUERER


Um querer
E um bem querer
São duas formas de amar
Amo você assim.
E tenho por ti o querer
Querer de ti
Querer pra mim
É tanto querer...

Eu amo...
Essa luz divina em meu ser
Estranho querer
Amo você, tudo de mim
É um querer pra você,
Por você.

Eu amo
E faço de mim
Esse ser
Que inspira prazer
Em amar você.

ENGANO



Pensei que fossemos,
Enganei-me.
A frase é obscura.
Assim não pretendi,
A teimosia foi maior.

Ter ou não, é pura posse.
Nessa vida sou caminho
Que se perde de mim.

Vejo o teu sorriso,
Nunca sei quando é falso.
Teus lábios dão formas
Às palavras.
A língua, ao veneno.

Fossemos amigos, teria o antídoto.
Pensei que fossemos,
Envenenei-me.


OLHAR



Podeis me olhar
Podeis me ver
Podeis querer
Entender o que vê

Mas pode ser
Que nada veja
Que nada sinta
Que nada perceba

Vai ser assim
Se teus olhos
Não enxergam
O brotar de minh’alma.

NOVELO


A pedra não é bruta
Porque quer
O sorriso não é amarelo
Por escolha.

O aperto no meu peito
Não é pelo novelo de lã
Não é pela pedra
Na beira do caminho.

Esse sorriso que me falta
Virá no lapidar
Dos dias
Do novelo farei um cachecol.

Ser bruto não é ser pedra
Você pode esculpir os dois
As mãos que lapidam
Darão forma.

O precioso é singular.


09.09.09 às 17h e 35min.

ALMA APRENDIZ



O amor que tenho no peito
Não sabe de que é feito
Se o coração bate uma, duas, três...
Na quarta falha e perde a vez.

O coração que tenho no peito
Deu pra ficar com defeito
Pelos seus olhos se assanha
Tropeça e apanha.

Diga a ele em verso
Que amar pode ser incerto
Tudo que se diz
Num momento
Pode virar tormento
Na alma de um aprendiz.


BEIJO E MÃO


Há em ti
Uma mão e outra mão.
Dirão rapidamente mamão.

Olhar as linhas que trafegam tua palma
Necessário seria
Para encontrar o que perdi.

Suas mãos riscaram
Nas ruas
Traçados de ir e vir.

Teimoso que sou
Nem fui
Nem vim.

Na palma da tua mão
A música nasce
Em tom maior, o afago.

Seus dedos
Longos e finos
São como grades
A esconder meus segredos.

Não dá para esconder
Se a mão tem desejo
A boca quer beijo.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

COISAS

Uma boca calada
Amarga
Um beijo seco
Estalado
Feito riso
Feito pranto
Estilhaços que se perde.

Na minha frente
Uma velha revista
Um frasco de remédio
Um fogão
Um armário
Panelas
Enfim, uma cozinha comum
Um dia comum que não passa
Uma vida comum que não morre.

Um homem só
Um caminho
Rastros sem nexos
Uma noite que tarda
E um tédio que aumenta.

BRILHO

Não diga sim a um gesto
Diga a todos
Em todos que acreditar.

Seja luz
Ilumine, é assim que Ele quer.
Ame como a porca aos seus leitões
Como as prostitutas a seus barões.

Ame! É o que te peço.
Seja em si você mesmo
Nunca o que te inspira essa vida.
Diga a todos antes que eu vá,
Não torne triste o final da luz.
Sabe esses dias que se busca o nada?

Pois bem, num desses dias mergulhei em mim e me deparei com isso:





INTROSPECÇÃO

Sou um navegador de mares em um veleiro sem velas içadas...

Sou o côncavo e o convexo, sou a razão que nega a razão...
Sou a escuridão da luz, o verso no reverso da alma...
Sou seu eu desconhecido, seu anônimo popular...

Sou a incógnita sem segredo, a visão cega...

Sou o arremesso invertido, um cisco no olho do furacão...
Sou o juízo do nada, a negação do poeta...

Eu sou a antítese serena do amor que não pousou em mim e fez moradia no colo da noite...

Sou você aos quarenta e eu aos oitenta...

Sou poeira, pedra, terra, vento, água, mar do meu rebento, só não fogo de minha inquisição...

domingo, 25 de outubro de 2009

TEMPOS DEPOIS


Preciso amar

Esse amor, que no toque imaginado,

Figura sonhos quase pecado.

Amor que não seja em si

Que seja lá, cá,

Em mi maior.


O beijo esperado

Que pareça o primeiro

E, a menina moça

Se deixar meus sonhos, voltará.

Tenho medo.


O amor que vivo

É forte.

Quando o encontro em uma esquina,

Viajo por ruas arenosas.


Lembro da dona Jacy,

Do seu Catulino, do Castelo,

Da Regina e da Gessy. Nessas ruas

Caminho lembranças e,

Às vezes, encontro seu Rui.

São belas recordações.


O amor que amo

É um ponto no passado.

Amar assim é um pretérito

Perfeito,

Fim.

ENSAIO DE FILOSOFIA

Em tudo que pores a mão
faça-o como ourives
transforme o bruto
em peça rara.

Deixe o belo
ser extraído pelos olhos
que pousam
sobre sua criação.

Os olhos de quem vê
margeiam o belo e o feio.

Sê belo!
Sê ourives!
O julgar não te cabes.

Faça das tuas mãos
a peça mais rara na construção
da alma humana.



Rubens Sousa, em 27.07.07 às 22h e 38min, casa do Roni, Dourados/MS.


ESSES VERSOS


Hoje encontrei versos

Que havia perdido em mim.

Esses versos outrora acanhados,

Tímidos, solitários.

Encontrei-os palpitantes, alegres,

Sorridentes!


Senti inveja.

Qual a razão de tanta alegria?


São meus

Estão em mim

Fazem algazarras por todo canto

Miro-os resignado

E, descaradamente pouco se importam.


Esses versos

Filhos meus

Deixam-me acanhado, tímido,

Só não solitário

Por derramar em mim

Seus encantos.

SABERÁS

Saberás
O quanto de verdade existe em cada dia
Que não foi possível
Sua luz.

Saberás
O quanto de mentira existe
Nos dias que não foram possíveis
A luz do seu olhar.

No todo fomos quase nada.
Tudo que não falamos
É reflexo do medo.
A verdade sempre assustou.

Saberás
Que nunca ultrapassamos
Nossas mentiras
E que cada fala
Fez parte de uma cena.

Sabe mulher!
Fomos um do outro
Um para o outro
Sem nossas verdades.

Saberás...
Um dia! Saberás!

MELODIA IMPERFEITA

Aqui neste canto

Entre o silêncio

Da melodia

O angorá lava o rosto

Roberto brinda-me

Com esta tarde vi llover...

A piscina pintou-se de verde

Algas verdes

Verde também é a esperança.

Aqui neste canto

Fundo de minha morada

Não vejo gente passar.

A libélula solitária

Em seu vôo mira

O verde da água...

Eu miro a libélula

O silêncio envolve nosso olhar

Silenciosamente visito o passado

Neste canto da casa me surpreende

A melodia imperfeita de minh’alma.

sábado, 24 de outubro de 2009

POESIA TERERÉ


Segue de mão em mão
De roda em roda
De toco em toco
Uma guampa
Uma jarra

Num instante poesia
Noutro tereré.