quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

NO SINGULAR

Somos iguais.
Em cada pedaço de nós
Há um que é meu
E seu.
Outro, só seu.
Particularmente
Gosto muito do meu
E, se há rima,
Que seja Orfeu.
Falamos da igualdade,
Rimada que fosse,
Falamos de nós e,
De forma velada,
Despimo-nos um pelo outro,
Um do outro,
E, se houvessem outros, Seriamos plural.
No singular, Somos um do outro.



10.09.98 às 19h e 59min

FRAGMENTO


Penso que o tempo presente Não é a matéria.

A minha matéria.

Escrevo o instante vivido,
O dia perdido,
O sonho mutilado e
Num tom vulgar
Deixo a desejar
A verdadeira poesia.

28.09.90 às 20h

LOTERIA


Houve um grande momento
Na imaginação
Que agora externo.

Passaram as novelas
As guerras
Os jornais
Do horário político
À prática política
Tudo se mistura
Num lodo só
Mas, o que me entristece
É o direito que me tomaram
De mentir sozinho.


26.10.93 às 21h e 03min

TORMENTA




Vou embora.
Qualquer lugar será uma parada.
Não serei a luz do eclipse.

Esse amor estranho
Que arde e fere
Não me deixa.
É um ato só, cadência de notas
Feito sol,
Lá, si, mi, maior e mais atento.

É isto que atormenta,
Não há tempo e, de tempo em tempo
Cai em mim feito tormenta.

Vou embora, não para Pasárgada.
Amigo do rei, não sou.
Em qualquer parada um começo.

É triste
Ser eu mesmo
Nesse eterno eclipse.


26.10.93 às 21h e 03min