quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

SOM DE MATO





Tem um som de mato
Dentro de mim
Um sussurro que
Começa no dedão do pé
E vai ricochetear na têmpora.


Tem um olho d'água
No meu coração
Que borbulha amor cristalino
Removendo particulas de solidão.


Tem um brilho de meu olhar
Que não reflete o que vejo.


Tem mais cousas em mim
Que ainda não encontrei.

Em que esquina será
Ficou o jogador de bulitas?




Rubens Sousa, em 24/06/10 às 20h e 06min






domingo, 2 de maio de 2010

DAQUI A POUCO




Daqui a pouco o tempo já foi,

O dia vem,

A noite termina.


Daqui a pouco eu sou passado

Você também.


Daqui a pouco o pouco que sou

Torna menor o momento nosso.


Daqui a pouco eu sou solidão

Você também.


Daqui a pouco meu leito é vazio

E o corpo não amado resume-se em desdém.


Daqui a pouco...



Rubens Sousa, em 23.04.10 às 22h e 53 min


sexta-feira, 30 de abril de 2010

INTERIOR


A tua força,

Esta que o teu interior alimenta,

Não deve faltar

À mesa do desafortunado.



Se te chamo,

Ouça!


Não te prendas ao mundo

Como quem se prende

À matéria.


Será corpo sem alma.


Não lhe dei direito

À mediocridade.


Creias em ti

E terás luz!

Serás luz!


Rubens Sousa, em 29/09/99 às 21h e 40min.

REDEMOINHO


Minha mão calejada

Não escreve palavras lindas

O rio que me banha

Ora é profundo, ora sem fundo.


O sol que se põe não é aurora

Os versos que escrevo

Não são de minha alma.


Nunca percebi amor nos olhos

Da mulher que espero

O amor que aos outros vem no olhar

Em mim cai feito cegueira

Não me dei bem com a espera.


Verdadeiramente não me reconheço

Se falo, não escutam,

Se escuto, emudecem a voz.


Todo meu começo é no final

E meu final é sempre um recomeço.


Não devo razão à razão

Sou puro improviso

No emaranhado de minha consciência

Deixo roteiros gravados em fala muda.


As tormentas que afligem o pensar

Fazem algazarras no pensador

Nem mesmo o ócio de meus quarenta anos

Atestam a conclusão de Descartes

Sou um encarte não finalizado

Se penso pensar existir, não existo.


O que escrevo não foi escrito por mim.


No redemoinho da vida dou volta contrária

Chego quando tenho que ir

Quando vou é porque tinha que ficar.


Os passos que me levam

Não são os mesmos que me trás

Eu mesmo não sou eu!


Essa janela que olho a vida

Tem dias que não abro

Estar fechada,

É estar fechada de mim mesmo.


Não ver o balançar da cortina

É poder mudar a rotina

Desse que penso ser Eu.




Rubens Sousa, em 15/12/2008 às 22h e 50min, antessala do estúdio do Moisés, Edifício Adelina Rigotti, Dourados/MS.

RUAS DO PASSADO


Caminhando nas ruas do meu passado

Ruas arenosas, largas e de poucos caminhantes

Encontrei os pés de mamonas

da Fortunato de Oliveira 150

Que tantas vezes deram munição para as

Guerras no final das aulas.


Entre as toras esplanadas

Vi as luzes e sons da Casa Preta

E toda sua festa

Invadindo a madrugada.


A José Guiomar me fez lembrar

Dona França e o velho Tingue.

Passei na oficina do Zelão,

Tomei café com a Boneca e o Castelo.


Na Vila do Sapo

Abracei o Zé das Medalhas.


No bar do Tecovê tomei tereré

Com o Babi e o Mino.


Mergulhei na água fria

Da piscina do quartel

E dei um nambiro na orelha do Eigh.


Peguei carona com o Silvinho

Pedi um beijo pra Léca

Falei dos meus sonhos para Regina.


Assim percorri as ruas

Do meu passado

Por todas as ruas caminhei

Vi velhos amigos

Só não encontrei

João Roberto e Kiko.


Já não caminham por ruas arenosas

Brincam e correm

Em estradas de nuvens,

Caminhos do céu.




Rubens Sousa, em14/10/07 às 19h e 24min

(mesa do fundo de casa)

Dourados/MS.

domingo, 11 de abril de 2010

IRAKITAN, VINHO E CHARUTO



Somos um verso
Conjugado no plural.

Meu singular é platônico.

Como ouvir Irakitan
Sem um bom vinho?
Tomar vinho sem

Um bom charuto?

Nesse embalo sem rima

Somos surdos e,

Um verso desafinado

Deixa-me afônico.




Rubens Sousa, em 29.09.99 às 21h e 55min.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

DIA DEZ


Nasci!


Outros nasceram.

Iguais a mim, nenhum.


Fiz-me um pouco palhaço.

Por vezes uso máscara,

Outras, a máscara me usa.


Nesse jogo,

Criaram declarações de direitos humanos,

Fiquei bêbado,

Tentei ser equilibrista, cresci!


Não mudou nada no dia que parece outro,

Comemoramos juntos

Um dia comum que pinta e faz graça

Dentro desse circo que a vida cobre.


Respeitável público o picadeiro é nosso!

O dia é nosso!

A alegria também!


Nasci no dia da alegria e do direito

Se não for advogado,

Viva!


Vou ser palhaço.




Dourados/MS em 10.12.98 às 16h e 18mim

LUGAR ALGUM





Estou quase em mim

Percebo um atracar

De desejos

É fácil a manobra.


Estar em diversos lugares

E, não estar em lugar algum.


Onde estão meus sorrisos?

A garra que me prende à vida?

Miro os que me rodeiam

Ninguém me vê.

Sou um deserto.


A imensidão do meu corpo

Funde-se ao vazio da mente.

Onde estão meus sonhos?

A garra que me prende

Morre lentamente.


Estaria em mim

Não fossem os lugares

De lugar algum.





26/04/04 às 19h e 20min

quinta-feira, 8 de abril de 2010

AULA DE SEXTA-FEIRA


Farto
Estou farto
Mal cabe o meu olhar
Sobre o rosto do mestre


Quem sabe são os dias
De convivência
Quem sabe seja a falsa
Convivência


Não importa
O fato é
Estou farto.


No todo acadêmico
Falta muito
O tempo escasso
Deixa-me atônito


Não importa
Estou farto
Volto pro mundo
Da forma que entrei

Só mudou o batente
Da porta
Que me importa
Não sou mais uma porta.


04.09.01 –21h e 40min (aula do Ricardo) UNIGRAN

ELE



Toda tua força
Vem de um lugar comum

A que te inspira

Que te alegra

Que te faz sorrir

Que te deixa triste

Que te põe para o alto.



Que, de um salto

Te faz moleque

Te faz aprendiz

Te faz homem

Te faz mestre

Te faz meretriz.


Esta força é de um lugar

Comum a outros.


Não penses que sois únicos

Nem imagines a dor

Somente tua.


Divida com Ele

Partilhe a alegria com todos

Porque todos é Ele.


Ele é tudo.


Não seja um idiota!


(11/08/02 – 17h:05min)

domingo, 4 de abril de 2010

INTROSPECÇÃO


Sou um navegador de mares em um veleiro sem velas içadas... Sou o côncavo e o convexo, sou a razão que nega a razão... Sou a escuridão da luz, o verso no reverso da alma... Sou seu eu desconhecido, seu anônimo popular...



Sou a incógnita sem segredo, a visão cega... Sou o arremesso invertido, um cisco no olho do furacão... Sou o juízo do nada, a negação do poeta...



Eu sou a antítese serena do amor que não pousou em mim e fez moradia no colo da noite... Sou você aos quarenta e eu aos oitenta...



Sou poeira, pedra, terra, vento, água, mar do meu rebento, só não fogo de minha inquisição...



Rubens Sousa

01/09/2009 – às 14h e 45 min (escritório de casa)



Essa introspecção não define a mim mesmo, mas a pessoa que habita em mim quando escrevo. (05/04/2010 às 18h e 27 min)

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

NO SINGULAR

Somos iguais.
Em cada pedaço de nós
Há um que é meu
E seu.
Outro, só seu.
Particularmente
Gosto muito do meu
E, se há rima,
Que seja Orfeu.
Falamos da igualdade,
Rimada que fosse,
Falamos de nós e,
De forma velada,
Despimo-nos um pelo outro,
Um do outro,
E, se houvessem outros, Seriamos plural.
No singular, Somos um do outro.



10.09.98 às 19h e 59min

FRAGMENTO


Penso que o tempo presente Não é a matéria.

A minha matéria.

Escrevo o instante vivido,
O dia perdido,
O sonho mutilado e
Num tom vulgar
Deixo a desejar
A verdadeira poesia.

28.09.90 às 20h

LOTERIA


Houve um grande momento
Na imaginação
Que agora externo.

Passaram as novelas
As guerras
Os jornais
Do horário político
À prática política
Tudo se mistura
Num lodo só
Mas, o que me entristece
É o direito que me tomaram
De mentir sozinho.


26.10.93 às 21h e 03min

TORMENTA




Vou embora.
Qualquer lugar será uma parada.
Não serei a luz do eclipse.

Esse amor estranho
Que arde e fere
Não me deixa.
É um ato só, cadência de notas
Feito sol,
Lá, si, mi, maior e mais atento.

É isto que atormenta,
Não há tempo e, de tempo em tempo
Cai em mim feito tormenta.

Vou embora, não para Pasárgada.
Amigo do rei, não sou.
Em qualquer parada um começo.

É triste
Ser eu mesmo
Nesse eterno eclipse.


26.10.93 às 21h e 03min


sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

POR SEGUNDOS


Diga a palavra que anime.
Busque extrair um sorriso.
Torne o dia leve.
Leve o possível
Nesse olhar insólito.
Não deixe por fazer.
Sonhe!

O dia não se funde
Em outro ao acaso,
Há uma lógica,
Como o gosto do beijo
Da pessoa amada.

Viva no plural
E sorria no superlativo.
O singular é teu
Assim como o corpo.

A alma, um grande mural.

Conceda!
Receba!
Doe!
Ame, ainda que por segundos.

Não seja obra inacabada.
O sol nunca se põe
Antes do fim do dia.



17.03.00 às 19h e 55min