quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
SOM DE MATO
domingo, 2 de maio de 2010
DAQUI A POUCO

Daqui a pouco o tempo já foi,
O dia vem,
A noite termina.
Daqui a pouco eu sou passado
Você também.
Daqui a pouco o pouco que sou
Torna menor o momento nosso.
Daqui a pouco eu sou solidão
Você também.
Daqui a pouco meu leito é vazio
E o corpo não amado resume-se em desdém.
Daqui a pouco...
Rubens Sousa, em 23.04.10 às 22h e 53 min
sexta-feira, 30 de abril de 2010
INTERIOR
REDEMOINHO

Minha mão calejada
Não escreve palavras lindas
O rio que me banha
Ora é profundo, ora sem fundo.
O sol que se põe não é aurora
Os versos que escrevo
Não são de minha alma.
Nunca percebi amor nos olhos
Da mulher que espero
O amor que aos outros vem no olhar
Em mim cai feito cegueira
Não me dei bem com a espera.
Verdadeiramente não me reconheço
Se falo, não escutam,
Se escuto, emudecem a voz.
Todo meu começo é no final
E meu final é sempre um recomeço.
Não devo razão à razão
Sou puro improviso
No emaranhado de minha consciência
Deixo roteiros gravados em fala muda.
As tormentas que afligem o pensar
Fazem algazarras no pensador
Nem mesmo o ócio de meus quarenta anos
Atestam a conclusão de Descartes
Sou um encarte não finalizado
Se penso pensar existir, não existo.
O que escrevo não foi escrito por mim.
No redemoinho da vida dou volta contrária
Chego quando tenho que ir
Quando vou é porque tinha que ficar.
Os passos que me levam
Não são os mesmos que me trás
Eu mesmo não sou eu!
Essa janela que olho a vida
Tem dias que não abro
Estar fechada,
É estar fechada de mim mesmo.
Não ver o balançar da cortina
É poder mudar a rotina
Desse que penso ser Eu.
Rubens Sousa, em 15/12/2008 às 22h e 50min, antessala do estúdio do Moisés, Edifício Adelina Rigotti, Dourados/MS.
RUAS DO PASSADO

Caminhando nas ruas do meu passado
Ruas arenosas, largas e de poucos caminhantes
Encontrei os pés de mamonas
da Fortunato de Oliveira 150
Que tantas vezes deram munição para as
Guerras no final das aulas.
Entre as toras esplanadas
Vi as luzes e sons da Casa Preta
E toda sua festa
Invadindo a madrugada.
A José Guiomar me fez lembrar
Dona França e o velho Tingue.
Passei na oficina do Zelão,
Tomei café com a Boneca e o Castelo.
Na Vila do Sapo
Abracei o Zé das Medalhas.
No bar do Tecovê tomei tereré
Com o Babi e o Mino.
Mergulhei na água fria
Da piscina do quartel
E dei um nambiro na orelha do Eigh.
Peguei carona com o Silvinho
Pedi um beijo pra Léca
Falei dos meus sonhos para Regina.
Assim percorri as ruas
Do meu passado
Por todas as ruas caminhei
Vi velhos amigos
Só não encontrei
João Roberto e Kiko.
Já não caminham por ruas arenosas
Brincam e correm
Em estradas de nuvens,
Caminhos do céu.
Rubens Sousa, em14/10/07 às 19h e 24min
(mesa do fundo de casa)
Dourados/MS.
domingo, 11 de abril de 2010
IRAKITAN, VINHO E CHARUTO
sexta-feira, 9 de abril de 2010
DIA DEZ

Nasci!
Outros nasceram.
Iguais a mim, nenhum.
Fiz-me um pouco palhaço.
Por vezes uso máscara,
Outras, a máscara me usa.
Nesse jogo,
Criaram declarações de direitos humanos,
Fiquei bêbado,
Tentei ser equilibrista, cresci!
Não mudou nada no dia que parece outro,
Comemoramos juntos
Um dia comum que pinta e faz graça
Dentro desse circo que a vida cobre.
Respeitável público o picadeiro é nosso!
O dia é nosso!
A alegria também!
Nasci no dia da alegria e do direito
Se não for advogado,
Viva!
Vou ser palhaço.
Dourados/MS em 10.12.98 às 16h e 18mim
LUGAR ALGUM

Estou quase em mim
Percebo um atracar
De desejos
É fácil a manobra.
Estar em diversos lugares
E, não estar em lugar algum.
Onde estão meus sorrisos?
A garra que me prende à vida?
Miro os que me rodeiam
Ninguém me vê.
Sou um deserto.
A imensidão do meu corpo
Funde-se ao vazio da mente.
Onde estão meus sonhos?
A garra que me prende
Morre lentamente.
Estaria em mim
Não fossem os lugares
De lugar algum.
26/04/04 às 19h e 20min
quinta-feira, 8 de abril de 2010
AULA DE SEXTA-FEIRA

Farto
Estou farto
Mal cabe o meu olhar
Sobre o rosto do mestre
Quem sabe são os dias
De convivência
Quem sabe seja a falsa
Convivência
Não importa
O fato é
Estou farto.
No todo acadêmico
Falta muito
O tempo escasso
Deixa-me atônito
Não importa
Estou farto
Volto pro mundo
Da forma que entrei
Só mudou o batente
Da porta
Que me importa
Não sou mais uma porta.
04.09.01 –21h e 40min (aula do Ricardo) UNIGRAN
ELE

Vem de um lugar comum
A que te inspira
Que te alegra
Que te faz sorrir
Que te deixa triste
Que te põe para o alto.
Que, de um salto
Te faz moleque
Te faz aprendiz
Te faz homem
Te faz mestre
Te faz meretriz.
Esta força é de um lugar
Comum a outros.
Não penses que sois únicos
Nem imagines a dor
Somente tua.
Divida com Ele
Partilhe a alegria com todos
Porque todos é Ele.
Ele é tudo.
Não seja um idiota!
(11/08/02 – 17h:05min)
domingo, 4 de abril de 2010
INTROSPECÇÃO

Sou um navegador de mares em um veleiro sem velas içadas... Sou o côncavo e o convexo, sou a razão que nega a razão... Sou a escuridão da luz, o verso no reverso da alma... Sou seu eu desconhecido, seu anônimo popular...
Sou a incógnita sem segredo, a visão cega... Sou o arremesso invertido, um cisco no olho do furacão... Sou o juízo do nada, a negação do poeta...
Eu sou a antítese serena do amor que não pousou em mim e fez moradia no colo da noite... Sou você aos quarenta e eu aos oitenta...
Sou poeira, pedra, terra, vento, água, mar do meu rebento, só não fogo de minha inquisição...
Rubens Sousa
01/09/2009 – às 14h e 45 min (escritório de casa)
Essa introspecção não define a mim mesmo, mas a pessoa que habita em mim quando escrevo. (05/04/2010 às 18h e 27 min)
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010
NO SINGULAR
Há um que é meu
E seu.
Outro, só seu.
Particularmente
Gosto muito do meu
E, se há rima,
Que seja Orfeu.
Falamos da igualdade,
Rimada que fosse,
Falamos de nós e,
De forma velada,
Despimo-nos um pelo outro,
Um do outro,
E, se houvessem outros, Seriamos plural.
No singular, Somos um do outro.
10.09.98 às 19h e 59min
FRAGMENTO
LOTERIA
TORMENTA

Vou embora.
Qualquer lugar será uma parada.
Não serei a luz do eclipse.
Esse amor estranho
Que arde e fere
Não me deixa.
É um ato só, cadência de notas
Feito sol,
Lá, si, mi, maior e mais atento.
É isto que atormenta,
Não há tempo e, de tempo em tempo
Cai em mim feito tormenta.
Vou embora, não para Pasárgada.
Amigo do rei, não sou.
Em qualquer parada um começo.
É triste
Ser eu mesmo
Nesse eterno eclipse.
26.10.93 às 21h e 03min
sexta-feira, 1 de janeiro de 2010
POR SEGUNDOS

Busque extrair um sorriso.
Torne o dia leve.
Leve o possível
Nesse olhar insólito.
Não deixe por fazer.
Sonhe!
O dia não se funde
Em outro ao acaso,
Há uma lógica,
Como o gosto do beijo
Da pessoa amada.
Viva no plural
E sorria no superlativo.
O singular é teu
Assim como o corpo.
A alma, um grande mural.
Conceda!
Receba!
Doe!
Ame, ainda que por segundos.
Não seja obra inacabada.
O sol nunca se põe
Antes do fim do dia.
17.03.00 às 19h e 55min